"[...] Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Ai, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz..."
(Beatriz - Edu Lobo / Chico Buarque)
Imagem: © Kyle Thompson
Quase trinta anos
e os mesmos medos de criança:
o escuro, a solidão, a incompreensão.
O mesmo choro inconsolável.
Quase trinta anos e poucos sonhos restaram,
poucos projetos se realizaram,
poucas pessoas permaneceram.
Tanta gente importante se foi.
Quase trinta anos
e a mesma fome de viajar,
conhecer lugares e pessoas.
Ganhar o mundo.
Quase trinta anos e ainda
não conheci o mar,
mas conservo o desejo antigo
de mergulhar na imensidão
e desaparecer gradativamente.
Quase trinta anos e a vergonha
ainda me impede de fazer
tudo o que tenho vontade.
A timidez vem em doses maiores.
Quase trinta anos e a
palavra quase vem sempre
antes de tudo, ou melhor,
antes de quase tudo.
Viver tem sido desde sempre
esse quase ser, quase chegar,
quase estar, quase conseguir.
Na verdade não há vida, nem morte.
Eu quase morro. Estou quase vivo.
(Wendel Valadares)
Para ler ao som de Zizi Possi: Beatriz